As melhores conversas são aquelas meio loucas — as que começam com ideias desconexas, tropeçam na filosofia e terminam com um plano de dominação mundial esboçado num guardanapo. Afinal, como diria Alain de Botton:
“As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas.”
No último Cupola Summit, tive uma dessas conversas com dois gigantes: Marcos Anselmo, co founder na Terracotta, e Ricardo Paixão, Founder & CEO at iConatus. Com interlocutores desse calibre, era natural que o papo fosse simultaneamente de altíssimo nível e altamente fora da curva.
Durante um merecido café quentinho no frio curitibano, o Ricardo puxou assunto sobre o painel que apresentaríamos no dia seguinte. Ele trouxe à tona a famosa curva de adoção da Gartner e me perguntou: “Em que ponto da curva você acha que estão as aplicações de ia no mercado imobiliário?”
Pra quem não conhece, a curva da Gartner — oficialmente chamada de Hype Cycle — é uma representação gráfica que mostra como tecnologias emergentes evoluem ao longo do tempo, da euforia à maturidade. Ela começa com um pico de expectativas infladas, passa por um vale da desilusão, até chegar à ladeira da iluminação e, por fim, ao planalto da produtividade, onde a tecnologia se estabiliza e gera valor real.

Uma demonstração da Curva de Gartner
Eu poderia ter dado a resposta padrão e otimista: “Estamos no planalto da produtividade.” Mas não! Gosto de provocar reflexões mais profundas e respondi ao Ricardo que estamos claramente chegando no pico das expectativas infladas. Isso traz, no mínimo, três consequências claras:
Esse cenário parece catastrófico — e, convenhamos, é um prato cheio para os inimigos internos da inovação. Todo time tem aquelas figuras que, diante de qualquer nova tecnologia ou movimento ousado, dizem com convicção:
“Melhor não fazer, o risco é muito alto.”
“Isso vai dar errado.”
“Já tentaram e não funcionou.”
É aqui que entra nosso segundo personagem literário: o Velho do Restelo.
Na epopeia Os Lusíadas, de Luís de Camões, o Velho do Restelo aparece no Canto IV, em um dos momentos mais simbólicos da literatura portuguesa. Às margens da praia de Belém, em Lisboa, enquanto as naus de Vasco da Gama se preparam para zarpar rumo ao desconhecido, o velho levanta a voz contra a aventura.
Ele é descrito como um homem de saber e experiência, mas tomado pelo medo do fracasso e pela nostalgia de tempos mais simples. Suas palavras são um lamento eloquente contra a ambição, a glória efêmera e os riscos da ousadia. Em essência, o Velho do Restelo brada ao cais:
“Não vos movais, ó lusitanos, por vãs glórias! Isso há de dar em tragédia!”
Seu discurso é poderoso, mas é um discurso imobilizador. Ele representa o conservadorismo paralisante — aquele que, sob o disfarce da prudência, rejeita o futuro.
E convenhamos: nossas incorporadoras e imobiliárias estão cheias de “Velhos do Restelo” — pessoas que desconfiam da Inteligência Artificial, que torcem o nariz para mudanças tecnológicas, que preferem seguir sempre o mesmo caminho por medo de naufragar.
Mas há um detalhe que não podemos ignorar:
O Velho do Restelo ficou no cais a lamentar,
os navegadores partiram — e entraram para a história.
Correndo riscos imensos, enfrentando mares desconhecidos e enfrentando o imprevisível, foram eles que moldaram o mundo moderno. Foram eles que descobriram novos caminhos, novas culturas, novos mercados.
Da mesma forma, as incorporadoras e imobiliárias que não se aventurarem e não aprenderem as rotas de navegação da Era da Inteligência Artificial, ficarão para trás. Assistirão da margem os concorrentes desbravando um novo mundo — de eficiência, personalização, escala e inteligência.
Porque se há um risco em se lançar ao mar, o risco de permanecer no porto é ainda maior: a irrelevância.
Naturalmente, quando falamos em adoção de Inteligência Artificial, surge uma dúvida inevitável: como preparar nossos dados para garantir um caminho mais seguro, eficiente e com menos riscos?
A resposta passa, essencialmente, por ter boas plataformas — não apenas no sentido tecnológico, mas também no sentido estrutural e estratégico. Especialmente quando falamos em IA generativa aplicada com LLMs (Modelos de Linguagem de Grande Escala) no formato de Agentes Inteligentes, há uma mudança fundamental de paradigma.
Ao contrário de soluções tradicionais de machine learning, os LLMs não são treinados do zero para cada empresa. Em vez disso, eles funcionam como modelos prontos, acessados por meio de prompts, ou seja, instruções textuais que carregam o contexto necessário para gerar respostas.
Funciona assim: a plataforma envia uma estrutura de texto para o modelo (como o GPT, Gemini, Mistral, etc.), composta por:
Por isso, três capacidades tornam-se cruciais:
É irreal esperar que times de incorporadoras dominem engenharia de prompts em alto nível. E honestamente, não deveriam.
É papel das plataformas garantir que esse domínio técnico já venha embutido na solução.
Na Morada.ai, esse é justamente um dos grandes diferenciais: contamos com um time dedicado exclusivamente à engenharia de prompt para o setor imobiliário. São mais de 1,5 milhão de conversas analisadas e ajustadas, com testes realizados em mais de 100 incorporadoras. Isso nos permite afinar a precisão das respostas em casos práticos como:
Essa especialização prova o quanto estruturas generalistas — feitas para múltiplos mercados — falham ao tentar atender com qualidade as nuances do setor imobiliário.
Além disso, também mostra por que desenvolver soluções internamente dentro das incorporadoras é um desafio enorme: falta escala, falta teste, falta histórico — e o custo do erro é alto.
Outro aspecto essencial é a liberdade para testar e alternar entre diferentes modelos de linguagem, de acordo com o tipo de conversa, idioma, carga de processamento ou necessidade de personalização.
Na Morada.ai, temos um pipeline que nos permite trabalhar com múltiplos LLMs, como GPT, Gemini e Mistral, e selecionar o modelo mais eficiente para cada contexto:
Essa capacidade de alternância é estratégica para a eficiência operacional e a qualidade da conversa, permitindo sempre o melhor equilíbrio entre custo, performance e aderência.

Inserção de imóveis com IA no mercado imobiliário
Todo mundo do setor já ouviu a famosa frase:
“O problema é que as bases de imóveis estão mal preenchidas.”
É verdade. Mas também é uma meia verdade.
Na prática, esperar que captadores e corretores preencham descrições impecáveis é uma utopia operacional. A rotina é corrida, os sistemas são complexos e o incentivo não está na ficha técnica do imóvel, mas na comissão da venda.
Por isso, na Morada, desenvolvemos uma solução mais realista e poderosa:
Importações com IA.
Ou seja, a própria inteligência artificial varre os portais, sites e bases online dos clientes, extrai as informações disponíveis, identifica lacunas e enriquece automaticamente os dados dos imóveis — padronizando, completando e melhorando as descrições com base em aprendizado contínuo.
É isso que garante que o agente inteligente não apenas funcione, mas funcione bem — entregando respostas relevantes, contextualizadas e convincentes para o lead.

Mickey interpretando o Aprendiz de Feiticeiro
Nesse ponto da conversa, Marcos Anselmo — sempre com um olhar no futuro — lançou uma provocação que mudou o rumo do nosso café:
“Quando é que os agentes de IA vão começar a fazer coisas realmente complexas e transformadoras? Como, por exemplo, ajudar uma incorporadora a decidir quais imóveis comprar ou vender?”
Porque sejamos honestos: essa história de IA atendendo leads é incrível… mas já é meio “2023”, né? A verdadeira revolução está na autonomia estratégica, na capacidade desses agentes de tomar decisões com impacto financeiro e operacional direto.
Foi então que entramos numa discussão sobre uma analogia brilhante feita por Yuval Noah Harari, no livro Nexus (2023). Harari afirma que não faz mais sentido pensar em barrar a Inteligência Artificial. A tecnologia já está em movimento — o que importa agora é entender como controlá-la. E para isso, ele recorre a um clássico da literatura e da cultura pop: O Aprendiz de Feiticeiro.
A história original foi escrita por Johann Wolfgang von Goethe, em 1797, como um poema narrativo (Der Zauberlehrling). O enredo foi mais tarde eternizado pela Disney, na animação Fantasia (1940), com Mickey Mouse no papel do aprendiz.
A trama é simples e poderosa:
Um jovem aprendiz de magia, entediado com tarefas domésticas, decide usar um feitiço para fazer uma vassoura encher baldes d’água no seu lugar. No início, tudo funciona perfeitamente. A vassoura executa as ordens mecanicamente.
Mas quando a água começa a transbordar, o aprendiz percebe que não sabe como parar o feitiço. O mestre não está por perto, o caos se instala, e a solução exige mais do que apenas boas intenções — exige controle, responsabilidade e sabedoria.
A metáfora encaixa perfeitamente no momento atual da Inteligência Artificial:
A pergunta do Harari (e do Marcos) é poderosa:
“Estamos mesmo prontos para entregar as decisões importantes a essas vassouras mágicas?”
Ou, dito de outro modo:
Quem segura o bastão do feiticeiro quando ele resolve sair da sala?
Esse papo nos leva a algumas conclusões inevitáveis:
Por isso, não perca mais tempo.
Chegou a hora de estruturar sua operação com IA no mercado imobiliário — e fazer isso com quem entende não só de tecnologia, mas do seu negócio.
Entre em contato com a Morada.ai, conheça nossas soluções, descubra como mais de 100 incorporadoras já estão navegando na nova era da inteligência artificial — e deixe o cais para quem prefere lamentar.
O Ricardo ainda puxou uma conversa sobre o trabalho do Domenico De Masi e a reinvenção da produtividade — mas esse papo fica para um próximo texto. Afinal, já temos referências demais por aqui… e só um humano poderia ter escrito isso.