O Ademi-AM Connections trouxe um olhar diferente para o setor com a presença de Denis Minev, CEO da Bemol, em um bate-papo conduzido por Henrique Medina. Em vez de falar de incorporação, ele partiu do varejo amazônico, de logística fluvial e de crédito ao consumidor para traduzir o que realmente muda desempenho: método, dados e — principalmente — cultura de inteligência artificial. A seguir, um relato fluido do que ele compartilhou no palco.
Do “obsessão por melhoria” à liderança digital
Denis Minev abriu a conversa lembrando da cultura de melhoria contínua e a aposta precoce em digitalização na Bemol: implantação de SAP ainda nos anos 1990 e certificação ISO 9000 na mesma época. Esse traço, somado ao entendimento profundo do território, sustenta a posição de destaque da varejista no e-commerce do Amazonas e de Roraima — um feito raro entre redes físicas em tempos dominados por gigantes globais.
Para ele, a vantagem vem de duas frentes: logística e crédito. No interior, logística é artesania: escolher o barco certo, impermeabilizar porões (a Bemol chegou a financiar adaptações em dezenas de embarcações) e orquestrar rotas em rios de sazonalidade extrema. No crédito, a casa joga no longo prazo: décadas de crediário próprio, relacionamento local e decisões calibradas por dados.
Crédito como ciência (e como investimento)
A análise de crédito da Bemol saiu da regressão multivariável para aprendizado de máquina por volta de 2015, em parceria com pesquisadores da UFAM. O modelo — que entrou em operação entre 2017 e 2018 — faz uma coisa, mas muito bem: estima a probabilidade de inadimplência em seis meses para ajustar limite, taxa e, quando preciso, negar. Depois de duas ou três transações, a acurácia fica “cirúrgica”: quando o modelo aponta 11% de risco, a inadimplência observada seis meses depois fica entre 10% e 12%.
Esse rigor não exclui a visão humanizada do ciclo de crédito. Denis descreveu políticas que toleram mais o tempo do cliente (como iniciar cobrança judicial de home equity só após 120 dias, mesmo com a lei permitindo em 45) e até perdão de dívidas muito antigas — em um experimento, consumidores que tiveram o débito perdoado voltaram melhores que a média. A lógica: relacionamentos longos valem mais que ganhos táticos de curto prazo.
IA não é (só) tecnologia — é cultura e produtividade

Denis Minev, CEO da Bemol, no Ademi-AM Connections 2025. Crédito: Luís Veloso/Morada.ai.
Foi ao falar de inteligência artificial que Denis Minev deixou sua mensagem mais enfática. A frase que melhor resume seu ponto:
“Eu olho para a inteligência artificial como um instrumento de RH. É um tema de cultura e de produtividade pessoal, não de tecnologia”, afirma o CEO da Bemol.
Ele defende que líderes aprendam a usar IA na prática — não para virarem programadores, mas para saber o que pedir, como medir e como cobrar. Para ilustrar, contou o caso de um gerente de loja (ensino médio completo) que automatizou sozinho o ritual diário de pedidos de almoço da equipe: um e-mail às 9h coletava escolhas, consolidava tudo e disparava para o restaurante — horas de trabalho manual viraram minutos.
Há, também, escala organizacional: a Bemol comprou centenas de licenças de um LLM comercial e, em um ano e meio, viu emergir cerca de 20 “super-usuários” que automatizaram suas rotinas e passaram a automatizar as dos colegas. Resultado: o gargalo deixou de ser “gente para executar” e virou “projeto para alimentar” esses multiplicadores de produtividade. A lição para qualquer empresa? Crie as circunstâncias para que isso aconteça — acesso às ferramentas, incentivo explícito e espaço para experimentar.
Ciclo macro, inadimplência e foco no cliente
Denis Minev contextualizou o ciclo recente do varejo: 2021 muito forte (auxílio emergencial), 2022 difícil, 2023/24 positivos e 2025 pressionado por juros altos, com inadimplência em alta. Nada disso muda a bússola interna: metas estruturais de crescer vendas em termos reais e ganhar produtividade ano após ano. “Independentemente do cenário, sempre há ineficiências internas para atacar”, acrescenta Minev.
Essa postura volta ao mercado imobiliário pela porta da servidoria ao cliente: tratar o momento ruim com dignidade para ampliar a fidelidade futura — mesmo em um setor de compra pouco recorrente. É disciplina de processo, mas também reputação.
Por que esse olhar “de fora” importa ao imobiliário
A participação de Denis Minev acrescentou ao evento um viés de varejo com enorme poder de transferência para a incorporação:
- Logística e execução: orquestrar “cadeias improváveis” (como barcos no interior) inspira soluções para última milha de obra e assistência técnica.
- Crédito como produto: modelar risco transação a transação e assumir o crédito como investimento, não só barreira.
- IA como cultura: patrocínio da liderança, onboarding massivo em ferramentas de IA, caça ativa a super-usuários e metas de automação na linha de frente — do administrativo ao campo.
- Longo prazo: políticas que privilegiam relaciono continuado (inclusive em cobrança) compõem um colchão de marca difícil de copiar.
Em uma frase
Denis Minev mostrou que produtividade hoje nasce de três coisas em simultâneo: processo, dados e gente empoderada por IA. Não é sobre comprar “mais uma solução”, e sim formar líderes e times capazes de inovar no dia a dia — uma agenda que serve tanto ao varejo quanto à incorporação.
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