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IA no mercado imobiliário vai te decepcionar

26/05/2025

13 minutos

IA no mercado imobiliário vai te decepcionar

As melhores conversas são aquelas meio loucas — as que começam com ideias desconexas, tropeçam na filosofia e terminam com um plano de dominação mundial esboçado num guardanapo. Afinal, como diria Alain de Botton:

“As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas.”

No último Cupola Summit, tive uma dessas conversas com dois gigantes: Marcos Anselmo, co founder na Terracotta, e Ricardo Paixão, Founder & CEO at iConatus. Com interlocutores desse calibre, era natural que o papo fosse simultaneamente de altíssimo nível e altamente fora da curva.

Durante um merecido café quentinho no frio curitibano, o Ricardo puxou assunto sobre o painel que apresentaríamos no dia seguinte. Ele trouxe à tona a famosa curva de adoção da Gartner e me perguntou: “Em que ponto da curva você acha que estão as aplicações de ia no mercado imobiliário?”

O Hype da Gartner e a IA no mercado imobiliário

Pra quem não conhece, a curva da Gartner — oficialmente chamada de Hype Cycle — é uma representação gráfica que mostra como tecnologias emergentes evoluem ao longo do tempo, da euforia à maturidade. Ela começa com um pico de expectativas infladas, passa por um vale da desilusão, até chegar à ladeira da iluminação e, por fim, ao planalto da produtividade, onde a tecnologia se estabiliza e gera valor real.

As Expectativas Tecnológicas das Startups e os Ciclos de Hype do Gartner |  Blog do Nei
Uma demonstração da Curva de Gartner

 

Eu poderia ter dado a resposta padrão e otimista: “Estamos no planalto da produtividade.” Mas não! Gosto de provocar reflexões mais profundas e respondi ao Ricardo que estamos claramente chegando no pico das expectativas infladas. Isso traz, no mínimo, três consequências claras:

  1. Proliferação de soluções improvisadas com IA no mercado imobiliário: De repente, aquele primo da sua cunhada virou empreendedor de IA. Vende agentes inteligentes e trabalha com tecnologia de ponta direto do quintal de casa. É o novo “ouro do século XXI”, e todo mundo quer sua fatia.

  2. Fracasso de muitas dessas soluções: A tecnologia não é tão simples quanto parece. Na Morada.ai, atendendo mais de um milhão de pessoas em busca de imóveis, aprendemos que é extremamente desafiador fazer a IA não alucinar e se comportar conforme o esperado. Já investimos milhões de reais para construir uma estrutura robusta que minimize essas alucinações.

  3. Crise de confiabilidade iminente: À medida que as IAs começarem a falhar, enfrentaremos uma crise de confiança. Empresas hesitarão em adotar essas soluções, temendo as consequências. Casos emblemáticos já ilustram esse cenário:

    • Air Canada foi obrigada a honrar um reembolso prometido por seu chatbot, mesmo que a política informada fosse inexistente. A empresa enfrentou um processo judicial e teve que arcar com as consequências de uma IA que “alucinou” uma política de reembolso.

    • Klarna, fintech sueca, substituiu 700 funcionários de atendimento ao cliente por IA. Dois anos depois, reconheceu que a IA não atendia às expectativas e começou a re contratar humanos para restaurar a qualidade do serviço.

A resistência a inovação e os Velhos do Restelo

Esse cenário parece catastrófico — e, convenhamos, é um prato cheio para os inimigos internos da inovação. Todo time tem aquelas figuras que, diante de qualquer nova tecnologia ou movimento ousado, dizem com convicção:

“Melhor não fazer, o risco é muito alto.”
“Isso vai dar errado.”
“Já tentaram e não funcionou.”

É aqui que entra nosso segundo personagem literário: o Velho do Restelo.

Na epopeia Os Lusíadas, de Luís de Camões, o Velho do Restelo aparece no Canto IV, em um dos momentos mais simbólicos da literatura portuguesa. Às margens da praia de Belém, em Lisboa, enquanto as naus de Vasco da Gama se preparam para zarpar rumo ao desconhecido, o velho levanta a voz contra a aventura.

Ele é descrito como um homem de saber e experiência, mas tomado pelo medo do fracasso e pela nostalgia de tempos mais simples. Suas palavras são um lamento eloquente contra a ambição, a glória efêmera e os riscos da ousadia. Em essência, o Velho do Restelo brada ao cais:

“Não vos movais, ó lusitanos, por vãs glórias! Isso há de dar em tragédia!”

Seu discurso é poderoso, mas é um discurso imobilizador. Ele representa o conservadorismo paralisante — aquele que, sob o disfarce da prudência, rejeita o futuro.

E convenhamos: nossas incorporadoras e imobiliárias estão cheias de “Velhos do Restelo” — pessoas que desconfiam da Inteligência Artificial, que torcem o nariz para mudanças tecnológicas, que preferem seguir sempre o mesmo caminho por medo de naufragar.

Mas há um detalhe que não podemos ignorar:

O Velho do Restelo ficou no cais a lamentar,
os navegadores partiram — e entraram para a história.

Correndo riscos imensos, enfrentando mares desconhecidos e enfrentando o imprevisível, foram eles que moldaram o mundo moderno. Foram eles que descobriram novos caminhos, novas culturas, novos mercados.

Da mesma forma, as incorporadoras e imobiliárias que não se aventurarem e não aprenderem as rotas de navegação da Era da Inteligência Artificial, ficarão para trás. Assistirão da margem os concorrentes desbravando um novo mundo — de eficiência, personalização, escala e inteligência.

Porque se há um risco em se lançar ao mar, o risco de permanecer no porto é ainda maior: a irrelevância.

O Preparo dos Dados: Navegar com Segurança na Era da IA no mercado imobiliário

Naturalmente, quando falamos em adoção de Inteligência Artificial, surge uma dúvida inevitável:

Como preparar nossos dados para garantir um caminho mais seguro, eficiente e com menos riscos?

A resposta passa, essencialmente, por ter boas plataformas — não apenas no sentido tecnológico, mas também no sentido estrutural e estratégico. Especialmente quando falamos em IA generativa aplicada com LLMs (Modelos de Linguagem de Grande Escala) no formato de Agentes Inteligentes, há uma mudança fundamental de paradigma.

LLMs não são treinados para cada cliente

Ao contrário de soluções tradicionais de machine learning, os LLMs não são treinados do zero para cada empresa. Em vez disso, eles funcionam como modelos prontos, acessados por meio de prompts, ou seja, instruções textuais que carregam o contexto necessário para gerar respostas.

Funciona assim: a plataforma envia uma estrutura de texto para o modelo (como o GPT, Gemini, Mistral, etc.), composta por:

  • A intenção do usuário (ex: “quero saber o valor da parcela”),

  • O contexto do negócio (ex: dados do imóvel, informações da empresa, preferências do lead),

  • E um prompt bem estruturado que guia o modelo a responder de forma inteligente e útil.

Por isso, três capacidades tornam-se cruciais:

 

1. Conhecimento profundo em Prompt Engineering

É irreal esperar que times de incorporadoras dominem engenharia de prompts em alto nível. E honestamente, não deveriam.

É papel das plataformas garantir que esse domínio técnico já venha embutido na solução.

Na Morada.ai, esse é justamente um dos grandes diferenciais: contamos com um time dedicado exclusivamente à engenharia de prompt para o setor imobiliário. São mais de 1,5 milhão de conversas analisadas e ajustadas, com testes realizados em mais de 100 incorporadoras. Isso nos permite afinar a precisão das respostas em casos práticos como:

  • Simulações de financiamento complexas,

  • Apresentação de imóveis com base no perfil do cliente,

  • Diferenciação entre investidores e compradores de moradia.

Essa especialização prova o quanto estruturas generalistas — feitas para múltiplos mercados — falham ao tentar atender com qualidade as nuances do setor imobiliário.

Além disso, também mostra por que desenvolver soluções internamente dentro das incorporadoras é um desafio enorme: falta escala, falta teste, falta histórico — e o custo do erro é alto.

2. Capacidade de alternar entre múltiplos modelos

Outro aspecto essencial é a liberdade para testar e alternar entre diferentes modelos de linguagem, de acordo com o tipo de conversa, idioma, carga de processamento ou necessidade de personalização.

Na Morada, temos um pipeline que nos permite trabalhar com múltiplos LLMs, como GPT, Gemini e Mistral, e selecionar o modelo mais eficiente para cada contexto:

  • Alguns são mais rápidos e econômicos,

  • Outros têm mais aderência a certos formatos de resposta,

  • Alguns se destacam na interpretação de linguagem mais coloquial ou regional.

Essa capacidade de alternância é estratégica para a eficiência operacional e a qualidade da conversa, permitindo sempre o melhor equilíbrio entre custo, performance e aderência.

3. Bases de imóveis bem descritas — mas sem milagres

Inserção de imóveis com IA no mercado imobiliário
Inserção de imóveis com IA no mercado imobiliário

Todo mundo do setor já ouviu a famosa frase:

“O problema é que as bases de imóveis estão mal preenchidas.”

É verdade. Mas também é uma meia verdade.
Na prática, esperar que captadores e corretores preencham descrições impecáveis é uma utopia operacional. A rotina é corrida, os sistemas são complexos e o incentivo não está na ficha técnica do imóvel, mas na comissão da venda.

Por isso, na Morada, desenvolvemos uma solução mais realista e poderosa:
Importações com IA.

Ou seja, a própria inteligência artificial varre os portais, sites e bases online dos clientes, extrai as informações disponíveis, identifica lacunas e enriquece automaticamente os dados dos imóveis — padronizando, completando e melhorando as descrições com base em aprendizado contínuo.

É isso que garante que o agente inteligente não apenas funcione, mas funcione bem — entregando respostas relevantes, contextualizadas e convincentes para o lead.

Goethe e o Aprendiz de Feiticeiro

Mickey em o aprendiz de feiticeiro
Mickey interpretando o Aprendiz de Feiticeiro

Nesse ponto da conversa, Marcos Anselmo — sempre com um olhar no futuro — lançou uma provocação que mudou o rumo do nosso café:

“Quando é que os agentes de IA vão começar a fazer coisas realmente complexas e transformadoras? Como, por exemplo, ajudar uma incorporadora a decidir quais imóveis comprar ou vender?”

Porque sejamos honestos: essa história de IA atendendo leads é incrível… mas já é meio “2023”, né? A verdadeira revolução está na autonomia estratégica, na capacidade desses agentes de tomar decisões com impacto financeiro e operacional direto.

Foi então que entramos numa discussão sobre uma analogia brilhante feita por Yuval Noah Harari, no livro Nexus (2023). Harari afirma que não faz mais sentido pensar em barrar a Inteligência Artificial. A tecnologia já está em movimento — o que importa agora é entender como controlá-la. E para isso, ele recorre a um clássico da literatura e da cultura pop: O Aprendiz de Feiticeiro.

A fábula de Goethe (e do Mickey)

A história original foi escrita por Johann Wolfgang von Goethe, em 1797, como um poema narrativo (Der Zauberlehrling). O enredo foi mais tarde eternizado pela Disney, na animação Fantasia (1940), com Mickey Mouse no papel do aprendiz.

A trama é simples e poderosa:
Um jovem aprendiz de magia, entediado com tarefas domésticas, decide usar um feitiço para fazer uma vassoura encher baldes d’água no seu lugar. No início, tudo funciona perfeitamente. A vassoura executa as ordens mecanicamente.
Mas quando a água começa a transbordar, o aprendiz percebe que não sabe como parar o feitiço. O mestre não está por perto, o caos se instala, e a solução exige mais do que apenas boas intenções — exige controle, responsabilidade e sabedoria.

O paralelismo com a IA

A metáfora encaixa perfeitamente no momento atual da Inteligência Artificial:

  • Estamos ensinando as “vassouras” (os agentes de IA) a agir por conta própria.

  • Elas aprendem rápido, fazem bem… mas nem sempre sabemos como pará-las, corrigi-las ou limitar seus efeitos.

  • E mais: quando a IA passa a tomar decisões estratégicas — como sugerir qual imóvel lançar, qual terreno adquirir ou qual cliente priorizar — os riscos e a complexidade crescem exponencialmente.

A pergunta do Harari (e do Marcos) é poderosa:

“Estamos mesmo prontos para entregar as decisões importantes a essas vassouras mágicas?”

Ou, dito de outro modo:

Quem segura o bastão do feiticeiro quando ele resolve sair da sala?

Conclusão

Esse papo nos leva a algumas conclusões inevitáveis:

  • A decepção com a IA no mercado imobiliário é certa. Ela virá nos próximos meses — e virá com força. A tecnologia ainda está em maturação, e o mercado está vivendo no pico das expectativas infladas.

  • Isso não pode dar espaço para os “Velhos do Restelo”. Em todas as empresas existem vozes contrárias à inovação, que torcem o nariz para qualquer coisa nova e vivem prevendo o colapso. Essas vozes precisam ser neutralizadas — não por intolerância, mas porque o futuro exige ação, não lamento.

  • Plataformas robustas são o único caminho. Não adianta esperar que o time comercial domine prompt engineering, nem que o captador melhore sozinho a base de dados. É por isso que soluções como a Morada.ai existem: para que incorporadoras e imobiliárias consigam alcançar bons resultados com IA, com o menor atrito possível.

  • A IA no mercado imobiliário já é a vassoura enfeitiçada de Goethe. Não tem mais como impedir sua entrada. A única questão agora é: quem vai aprender a controlá-la? Quem vai desenvolver a experiência, conhecimento de mercado e infraestrutura para transformá-la em vantagem competitiva?

Por isso, não perca mais tempo.

Chegou a hora de estruturar sua operação com IA no mercado imobiliário — e fazer isso com quem entende não só de tecnologia, mas do seu negócio.

👉 Comece agora.

Entre em contato com a Morada.ai, conheça nossas soluções, descubra como mais de 100 incorporadoras já estão navegando na nova era da inteligência artificial — e deixe o cais para quem prefere lamentar.

O Ricardo ainda puxou uma conversa sobre o trabalho do Domenico De Masi e a reinvenção da produtividade — mas esse papo fica para um próximo texto. Afinal, já temos referências demais por aqui… e só um humano poderia ter escrito isso.

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