Rafael Menin e o legado MRV: método, escala e obsessão por indicadores

Rafael Menin e o legado MRV: método, escala e obsessão por indicadores

Publicado em: 17.09.2025

O Ademi-AM Connections abriu a programação com um bate-papo entre Rafael Menin (co-presidente da MRV) e Henrique Medina. Num clima descontraído, Menin contextualizou o momento do setor, a estratégia da MRV e os aprendizados por trás do crescimento recente. Ele começou valorizando a união das entidades e do mercado local — onde a MRV atua há cerca de nove anos — e resumiu o sentimento da companhia: demanda forte em Manaus e perspectiva positiva.

Falando de cenário, Menin atribuiu a resiliência do segmento econômico à continuidade do Minha Casa Minha Vida e à evolução dos apoios estaduais e municipais. “Virou uma política de Estado”, afirmou. Em paralelo, a combinação de programas locais (como apoio ao sinal) e ajustes urbanísticos tem aumentado a aderência dos projetos, abrindo espaço para crescer com rentabilidade após o choque de custos do período pós-pandemia.

No campo técnico, ele retomou a “revolução” que a MRV fez ao migrar da alvenaria para paredes de concreto com formas de alumínio. Hoje, a lógica é evoluir continuamente o processo, e não buscar outra ruptura imediata. Quando questionado sobre steel/wood frame, Menin reconheceu o potencial em habitação horizontal (1–2 pavimentos), mas foi direto ao ponto sobre mercados como Manaus: com metade dos projetos acima de 8 pavimentos (chegando a 20), essas tecnologias “ficam menos competitivas” do que paredes de concreto; ainda assim, “devem ganhar alguma relevância” em nichos específicos.

Rafael Menin, co-presidente da MRV, no Ademi-AM Connections.

Rafael Menin, co-presidente da MRV, no Ademi-AM Connections. Crédito: Luis Veloso/Morada.ai.

A conversa então mergulhou nos KPIs que guiam a produção. Menin trouxe um indicador emblemático — o IP (Índice do Operário), que mede quantas pessoas são necessárias para produzir o equivalente a um apartamento por mês: “No IPO, lá em 2007, era 11; hoje está em 4,5 e nosso benchmark já é 3,5.” Outro pilar é a VP (Velocidade de Produção): como o repasse acontece conforme a evolução física, “obra bem vendida, quanto mais rápida, mais cedo a MRV coleta e reduz custo fixo”. O resultado apareceu no ritmo: “No primeiro semestre, produzimos 20 mil apartamentos, mais do que no ano passado — fruto de uma velocidade de produção maior.”

Para sustentar esse ciclo, a mão de obra é tratada como “linha fabril”: lançamento e cronograma são organizados para migrar equipes de um canteiro a outro na mesma cidade, reduzindo ramp-up e turnover. “Hoje temos aproximadamente 18 mil pessoas nos canteiros”, disse. Do lado de custos, a MRV combinou mecanização e off-site (elétrica, hidráulica) com compras em escala e alguma importação. “Nos últimos três anos, nosso custo ficou praticamente estável; enquanto o INCC composto deu perto de 15%, conseguimos compensar”, explicou. Sobre insumos externos: “A cada ano compramos um pouco mais na Chinavemos espaço para os 10% atuais chegarem a 20% nos próximos dois anos”, citando aço, formas de alumínio, esquadrias e cabos.

A pauta macro veio à mesa com franqueza. Para Menin, juros estruturalmente mais baixos dependem de disciplina fiscal e aumento de confiança: “Não é na canetada; temos que atacar a causa raiz… Por que não o Brasil ter inflação de 3 com Selic de 7?” Enquanto isso não acontece, o mercado anda em dois ritmos: o econômico segue com boa dinâmica; já média/alta renda sofre mais com financiamento caro.

Rafael Menin, co-presidente da MRV, no Ademi-AM Connections.

Painel de Rafael Menin, co-presidente da MRV, no Ademi-AM Connections. Crédito: Luis Veloso/Morada.ai.

No crédito próprio (o prosoluto), Menin detalhou a fotografia atual: “Hoje está um pouco abaixo de 14%, com ~60% pós-obra e ~40% pré-chaves.” Para mitigar perdas, a MRV encurta a carteira pós-chaves e opera camadas de cobrança escalonadas — começando por uma renegociação 100% digital no app. A transparência impressiona: “30% dos clientes não pagam no primeiro mês”, por isso o desenho do funil de recuperação (digital → ativa/extrajudicial → judicial) é parte do modelo.

Tecnologia permeia toda a esteira. “Investimos cerca de R$ 100 milhões/ano em TI”, disse Menin, mencionando a evolução do ERP multi-cloud e a integração entre venda, contas a receber/pagar, gestão de projetos e bots/IA. No topo do funil comercial, “recebemos 120 mil leads por mês para chegar em 4 mil vendas”, com enriquecimento de base e atendimento inicial automatizado. A MRV também usa modelos próprios para rating de crédito e prioriza ganhos de produtividade internos: “Tirando canteiro, saímos de 5.200 pessoas (2020) para 4.200 — empresa um pouco maior e mais ágil.” No time de tecnologia, “temos por volta de 200 devs e a produtividade dobrou”.

Ao final, o fio condutor fica claro. O “legado MRV”, na visão de Rafael Menin, combina padronização técnica, obsessão por números e disciplina operacional com uma leitura pragmática do macro e o uso intensivo de tecnologia. Em suas palavras, trata-se de perseguir eficiência sem abrir mão da qualidade, acelerar o ciclo e manter custos sob controle — o método por trás de um semestre que entregou escala em um ambiente ainda desafiador.

 

 

Pronto para dar o próximo passo?

Descubra como a inteligência artificial pode revolucionar seus resultados no mercado imobiliário.