Definir o mix de tipologias em incorporação é uma das decisões mais alavancadas do ciclo de produto. O equilíbrio entre áreas privativas, número de dormitórios, vagas, varandas e diferenciais de planta determina a percepção de valor do projeto, o ticket médio por fase, a curva de preços, a absorção de estoque e, no fim do dia, a margem. Um mix mal calibrado pode encalhar unidades de saída lenta e pressionar custo de capital. Já um mix inteligente acelera o giro sem queimar preço, sustenta repiques ao longo do lançamento imobiliário e protege a lucratividade.
A seguir, um guia prático para modelar elasticidade de preço, desenhar a combinação de plantas, planejar a curva de preço por janelas e conduzir ajustes táticos a partir de sinais de demanda reais.
Um lançamento imobiliário típico carrega públicos com disposição a pagar diferente para atributos específicos. Há compradores que priorizam preço por metro quadrado, outros compram por programa de necessidades (suíte, home office, varanda gourmet), e há quem valorize andar alto e vista. O mix precisa endereçar esses bolsos e desejos com uma grade que:
Esse desenho começa no topo do funil. Sem consistência na aquisição e na passagem de bastão para vendas, a leitura de demanda fica turva. Se ainda não mapeou seu funil ponta a ponta, vale revisar este guia de funis de vendas e garantir que cada lead carregue origem, intenção e objeções dentro do CRM.
Elasticidade de preço é a sensibilidade da procura a variações no preço. Em prática comercial, você não precisa de um modelo acadêmico complexo; precisa de um método simples e repetível:
1) Degraus de teste por tipologia
Defina dois ou três patamares de preço por tipologia logo no início do teaser. Exemplo: estúdio entre R$ 8.200 e R$ 8.600/m²; 2 quartos entre R$ 7.700 e R$ 8.100/m². O spread precisa ser suficiente para revelar sensibilidade, mas sem destoar do mercado.
2) Sinal de intenção transacional
Meça cliques em tabela, pedidos de planta detalhada, visitas agendadas e propostas enviadas por patamar. Cadastre esses eventos no CRM com carimbo de preço e tipologia. Isso transforma elasticidade em dado operacional.
3) Curva de conversão por patamar
Compare taxa de proposta por lead qualificado entre patamares. Se um ajuste de 3% derruba 25% das propostas em uma tipologia, a elasticidade está alta; preserve preço e trabalhe benefícios não monetários. Se a queda de 3% aumenta visitas em 20% e propostas em 10%, há espaço para trade-off entre giro e margem.
4) Segmentação por perfil
Analise elasticidade por cluster: investidor, primeira moradia, upgrade, MCMV. Cada público responde de um jeito. Conecte essa leitura às suas campanhas de captação para alimentar o mix com o público certo.
A combinação de plantas é o arranjo de tipologias dentro do estoque. Alguns princípios práticos:
Pular de 45 m² para 47 m² raramente justifica o degrau de preço. Busque saltos funcionais: 45 m² sem suíte para 52 m² com suíte e varanda; 60 m² com 1 vaga para 68 m² com 2 vagas.
Em muitos mercados, a varanda separa conveniência de estilo de vida. Ofereça versões com e sem, para ocupar dois bolsos diferentes, sem que um roube demanda do outro.
O espaço flex cria percepção de tipologia “meio termo” com baixo custo incremental de obra. Ajuda a capturar demanda que não chega ao 3 dormitórios mas precisa de função extra.
Agrupar unidades com e sem vaga por pilha reduz custo de infraestrutura. Depósitos e lockers podem virar opcional com preço aspiracional, liberando margem acessória.
Defina política clara de prêmio por andar e por vista. A fórmula deve ser previsível para sustentar a curva de preço ao longo das janelas de venda.
Uma grade eficiente oferece degraus nítidos: Estúdio 24–28 m²; 1 dorm 35–42 m²; 2 dorm 50–60 m²; garden/varanda premium; coberturas limitadas. Evite microvariações que só confundem o cliente e travam o atendente.
A curva de preço organiza a evolução do valor por tipologia em janelas: teaser, lançamento, reforço, virada de fase e fechamento.
Oferta enxuta, com poucas unidades por tipologia e ancoragem agressiva para gerar lista de espera. Bloqueie descontos casuais e concentre benefícios em condições temporais.
Abra o leque com 30%–40% do estoque, organize ofertas por janela com validade curta e priorize torres/pilhas com maior percepção de valor. Use “unidades-farol” para estabelecer preço de referência.
Mantenha repiques programados por escassez real, andares premium e vistas. Ajuste 0,5%–1% quinzenais onde a absorção de estoque estiver mais rápida. comunique sempre benefícios não monetários para sustentar percepção de valor.
Ao abrir nova fase, traga microinovações: kit de personalização, upgrades de acabamento, vaga como opcional promocional, armários em plantas-chave. Repique de 2%–3% justificado por atributos.
Orquestre as últimas 10%–15% das unidades com “combo de conveniência” em vez de desconto puro: ITBI e registro, armários ou condição de entrada modulada.
Para executar essa coreografia sem fricção, garanta cadências de vendas e follow-up bem definidas. E alinhe online, estande e corretores na mesma narrativa de preço; o guia de compra omnicanal traz boas práticas para unificar a experiência.
Trabalhe com dois indicadores-guia:
Receita média por unidade vendida naquela janela. Se o TMF cresce e a velocidade cai pouco, você está capturando valor. Se cai junto com a velocidade, o mix e a elasticidade estão gritando por ajuste.
Unidades vendidas por mês / estoque disponível. Compare VSO por tipologia e por faixa de preço. Mantenha quadro semanal por torres/pilhas. Isso orienta liberação de estoque, reposicionamento de preço e prioridades de mídia.
Conecte essas leituras a dashboards de produtividade para tomar decisões com o time em tempo quase real.
Mix não é só receita. É custo. Ajustes de tipologia mudam:
Crie uma matriz simples que relaciona cada variante a impacto de custo por unidade. Em decisões de trade-off, simule o efeito na margem global e no risco de encalhe.
Imagine 200 unidades em duas torres, ZN de capital, público majoritariamente de primeira moradia com parte de investidores.
20% estúdio 27 m², 35% 1 dorm 38–42 m², 35% 2 dorm 53–58 m², 10% gardens/coberturas.
Vagas: 60% das unidades com 1 vaga, 10% com 2 vagas (associadas a 2 dorm premium).
Libere 15% do estoque com ancoragem de preço agressiva nas tipologias de maior giro (1 dorm e 2 dorm base). Objetivo é construir prova social e lista de espera.
Abra mais 30% do estoque, com três patamares por tipologia. Acompanhe VSO semanal e TMF. Se 1 dorm estourar demanda e 2 dorm ficar lento, mova parte da verba de mídia para 2 dorm, reempacote benefícios e segure repique nos 1 dorm.
Repique de 1% quinzenal onde VSO se mantiver acima da meta. Onde cair, teste aumento de valor agregado (armários, condição de entrada) antes de mexer no preço.
Reabra pilhas premium com vista e andares altos. Use scarcidade real, não descontos genéricos.
Esse jogo exige disciplina de dados e cadências comerciais. Para manter consistência do primeiro clique ao agendamento, alinhe a aquisição com um playbook de captação de leads focado em intenção.
“Não dá para redesenhar planta no meio do jogo.” Concordo. Mas dá para ajustar oferta:
Diante desses sinais, mova verbas, reempacote benefícios, ajuste patamares de preço e reveja a narrativa de valor. Evite “desconto silencioso” pulverizado por corretores, que distorce percepção do mercado e derruba margem.
Mix e pricing só funcionam com execução alinhada:
Conteúdos e ofertas por persona, com régua distinta para investidor, primeira moradia e upgrade.
Cada planta precisa de três mensagens claras: programa, diferencial e prova social.
Ajuste criativos por canal: performance para captação de intenção, redes para prova social e storytelling de bairro, social selling para engajamento consultivo.
Reuniões semanais com marketing, vendas e produto para revisar VSO, TMF, objeções e próximos testes.
Projetos com bom fit geram NPS alto, indicações e recompras ao abrir a fase seguinte. Conecte o aprendizado do mix ao relacionamento pós-chaves: quem comprou 1 dorm pode indicar um amigo para o estúdio; quem comprou 2 dorm pode buscar upgrade em próximo ciclo. Estruture sua régua de pós-venda e fidelização para capturar esse valor composto.
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